segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Antes de sair, Rubem Jamin apara os pêlos sobressalentes das cavidades nasais que limpa manualmente toda noite às sete, afivela o cinto um buraco à frente do habitual, estufa o peito à circunferência de general aposentado, alisa a camisa demorada e inutilmente – não que esteja realmente amassada, e ele de pronto percebe como o gesto seria inócuo mesmo se estivesse. Mas quem pode com os caprichos?

Antes de sair, R. Jamin observa ansioso a lua através da janela no céu negro, moeda metálica cujo valor ele tentou estimar 14 vezes, sem sucesso, impermeável à escuridão que toda noite dá à luz e não sofre, prata celeste como a que ele vislumbra no brilho dos brincos e anéis de Julia Bardou Fez quando observa suas fotos com moldura Polaroid no site de relacionamentos Guess Who?. A moldura das imagens é inserida em fase de pós-produção - quanto a isso não há engano. Mas e o brilho das joias? Ou as curvas acidentais do seu nariz e as linhas das mãos - lidas semana passada, pela tela do computador, por uma velha negra cartomante que exalava perfumes de naftalina e éter, cujo serviço ele pagou em porções de arroz e cachaça? Jamin se preocupa, mas no fundo sabe que uma santa cinta-liga e uma mordaça de ébano bem apertadinha, bem quentinha, amarrada à sua boca, mais tarde esta noite, o fariam perdoar eventuais mentiras de Julia. O que deveria ele fazer para que também as suas fossem perdoadas?

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