Nos nove dias de truque, Mister Fantástico entrou e saiu de oito pequenas cidades da região para chupar seu gelo; semeou sua mensagem às mulheres e crianças que sorriam na rua ao ver o curioso mágico, olhando sério e não mastigando, não engolindo, mas chupando, chuchuchupando uma pedra de gelo do tamanho de um morango que não sumia nunca! Era o maior mágico do mundo deste Gaston Vellares, não havia a menor dúvida. As pessoas se impressionavam, formulavam teorias: “Mister Fantástico vendeu a alma para o diabo quando tinha seis anos”; “Mister Fantástico tinha duas gotas de saliva na boca, mas as engoliu e desde então não tem mais nada”; “Mister Fantástico tem a língua feita de pudim de pão”; “Mister Fantástico vai chupar o gelo até perder os sentidos”; “Mister Fantástico já caminhou sobre as águas e agora vai salvar os homens na terra”; “Mister Fantástico é genro do presidente”.
terça-feira, 25 de maio de 2010
O gelo
Nos nove dias de truque, Mister Fantástico entrou e saiu de oito pequenas cidades da região para chupar seu gelo; semeou sua mensagem às mulheres e crianças que sorriam na rua ao ver o curioso mágico, olhando sério e não mastigando, não engolindo, mas chupando, chuchuchupando uma pedra de gelo do tamanho de um morango que não sumia nunca! Era o maior mágico do mundo deste Gaston Vellares, não havia a menor dúvida. As pessoas se impressionavam, formulavam teorias: “Mister Fantástico vendeu a alma para o diabo quando tinha seis anos”; “Mister Fantástico tinha duas gotas de saliva na boca, mas as engoliu e desde então não tem mais nada”; “Mister Fantástico tem a língua feita de pudim de pão”; “Mister Fantástico vai chupar o gelo até perder os sentidos”; “Mister Fantástico já caminhou sobre as águas e agora vai salvar os homens na terra”; “Mister Fantástico é genro do presidente”.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Caroço de pequi
Estou implorando: ponha-me no chão e use suas mãos sem medida alguma; faz de conta que sou o brinquedo do vizinho, rompa minhas partes articuladas sem ter medo de continuar, prometo não emitir gemidos de dor. Ou talvez emita um, mas será o único, solitário, cuspido numa golfada de sangue para consolar meus membros soltos no chão, para tentar encobri-los. Escolha suas unhas mais compridas e enfie nos meus olhos, que fixam seus pêlos úmidos, seus mamilos endurecidos, seu coração palpitante através da carne. Estou implorando. Dançando, pisoteie minhas costelas até que parem de se quebrar; depois tente alinhar minha postura de modo que eu fique de joelhos, como alguém que se confessa. Comece a transfigurar meu rosto. Com a pinça, remova pêlo por pêlo minhas duas sobrancelhas. Seja muito paciente. Com o machado cego, corte as pontas duplas de meus cabelos, acabe com o problema pela raiz. Com sua velha faca de ponta – enferrujada -, rasgue as abas do meu nariz. Se não conseguir - sei que a lâmina é um fio casto, gasto – perfure as maçãs do meu rosto onde melhor combinar. Use seu senso estético para compor a figura. Com um cuidado cirúrgico, remova cada um dos meus dentes. Depois embaralhe a ordem da natureza, enterre-os de volta na gengiva lisa copiando uma sequência inventada. Quero sorrir mostrando os molares, sentir a ponta dos caninos na última curva da minha boca. Observe enquanto eu balbucio alguma toada romântica, um hino. Ouça com muita atenção. Estou implorando, não estou louco. Meu novo aspecto é provavelmente abominável. Meus olhos vertem sangue, cataratas vermelhas, mas o cheiro luxurioso das suas partes excitadas ainda entrega sua condição de êxtase, seu arrepio. Você recompôs todas as minhas antigas formas, sou algo a menos que um homem. Ou algo a mais. Na marca - é onde não estou. Sei que agora você está passando os dedos nos lábios que acabou de morder, tendo neles cavado uma fenda que se abre em cada palavra articulada. Sei exatamente o que você quer, porque fui eu quem te trouxe até aqui. Deixei pouquíssima margem para o erro. Eu, amorfo, monstruoso, deslizando minha pele nua e inumana no sangue que já foi meu, excito cada poro do seu corpo. Não estou louco. Suas pernas estão abertas agora, a carne tremendo por alguma coisa que restou