domingo, 12 de setembro de 2010

Ficção número um

Hoje vi um filme na TV. Era sobre um escritor louco que tinha uma namorada que só ele via. Sabe, imaginária. Escritores têm uma imaginação hiperativa, nada de errado com o roteiro. Era o tipo de filme que te mantém entretido quando você não quer pensar em mais nada. O protagonista fazia o tipo complicado, intenso. Pensamentos indecifráveis. Um charme. A mulher o havia largado, e a solidão pesava sobre sua cabeça como sete palmos de terra. Você já deve ter ouvido essa história. O que me obrigou a ficar no sofá, olhando as bem-humoradas cenas, foi o calor da tarde. Eu havia abusado de Clonazepam na noite anterior, e ainda sentia seus efeitos. “Veja o sujeito falando sozinho. Ficando louco de amor. Fiel a ninguém mais. Batendo de frente com seus melhores amigos em defesa da mulher que julgava verdadeira”. A risada é garantida. Um estouro! Sabe que palavra consigo formar com “estouro”? Tesouro. O que isso significa?

O filme se desenrola no ritmo do domingo, e a certa altura o escritor descobre que sua paixão inventada não passa de amor próprio. Foi quando fiquei irado. Já pedi desculpas pela porcelana que destruí, tudo bem. Que tipo fajuto de escritor era aquele? Não se pode cobrar muito, é claro, já que, num total de 1 hora e meia de filme, ele passa um ou dois minutos escrevendo. Será que é preciso tanto tempo assim para descobrir seu polegar opositor? O maldito mata-piolhos? Vá à merda. A mulher some, depois aparece, depois some. Ele descobre uma de carne e osso. Ele se apaixona. Ela também, qual a dúvida? Adeus loucura. Nunca mais.

Só espero que ele passe o resto da vida sem escrever uma única linha. Santo & Johnny estão agitando as caixas de som agora. O calor está ferrado. Preciso beber mais água para eliminar o Clonazepam do meu sistema. A mulher ideal. Qual a novidade? Ou, nas palavras de Salomão, a "novelty"?

Talvez seja Francis Bacon (...)