quarta-feira, 27 de julho de 2011

No quarto anônimo de hotel,
A sul de onde nunca estive,
Encontro-me comigo mesmo, e deixo as pantufas dentro da mala.

O ruído rouco do aparelho de ar,
O cheiro limpo dos lençóis,
As gavetas vazias do criado mudo – meu e de todos,
A pose cúmplice das paredes nuas,
A textura branca,
Tudo isso pinta na minha mente um quadro que conheço,
Mas não decifro.

E enquanto o mundo aqui dentro implode,
O quarto não me pergunta nada.

Aqui,
Sob os lençóis com quem aqui já tremeu
(de solidão ou de prazer)
Frente ao espelho com quem tentou contato consigo –
E quem sabe se ouviu resposta?
Só sei que não ouço, e grito.
Faço-o na cama, pra não espantar a esfinge.

(Na escuridão da noite anônima me perco, escondo o que posso,
Mas a mala fechada ainda tem trinco,
E trinco ainda está bem fechado.
Lá dentro as cuecas, tão minhas.

No silêncio escuto a voz dos que calam,
E faço do nada um poema sobre mim¹.)

Esta noite as perguntas são ânsias.
Obter respostas não requer paciência,
E sim um mantra que espante a morte.

Sim! Sim! Sim! Sim!

Na toada o oco do quarto me inunda o peito,
E eu enfim puxo a descarga.

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¹ sobreposto a "sobre mim": ruim

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